Degravação

Sob a revisão da Ms. Ana Paula Sanches, fonoaudióloga com atuação no Ministério Público do Estado de São Paulo, onde é gestora do Núcleo de Computação, Educação e Fonoaudiologia Forense, também coautora do livro “Análise Fonético-Forense – Uma Tarefa de Comparação de Locutor”, este breve artigo possui como objetivo de ilustrar a importância da adoção na realização de Degravação / Transcrição Fonográfica de maneira manual, e não de maneira automatizada, por meio de softwares ou até mesmo pelo Google Docs/Translator, ferramentas estas que realizam a transcrição de maneira automática.

No transcorrer deste artigo, serão descritas as limitações que estão sujeitas as Transcrições Automáticas em áudios e/ou vídeos, quando comparadas às Transcrições realizadas Manualmente, sob a oitiva do Perito.

Cabe considerar, a necessidade do procedimento ser realizado por pessoa que detenha “expertise” sobre determinada área do conhecimento, em especial nos casos que envolvam a comunicação humana, que comprovem conhecimento nas áreas da sintaxe, semântica, morfologia, lexicologia, dialetologia, sociolinguística, psicolinguística, além da fonética articulatória e da fonética acústica.

Transcrição Fonográfica

O processo de transformar o discurso oral em palavras escritas possui um conjunto diversificado de desafios, que poderão ser amenizados com um planejamento cuidadoso e rigoroso durante a análise pericial. Considerando que as orientações práticas remetem para diferentes aspetos do processo de transcrição existe a necessidade na padronização do processo, pois tanto a “fala” quanto a “escrita”, pois além terem em si formas/estruturas distintas (não falamos como escrevemos), também possuem características individuais para cada pessoa . Portanto a transcrição, não se trata de um processo automático, pois depende da sensibilidade do transcritor na interpretação do material questionado, o que em via de regra, se não feita com cautela e padronizado, causa inúmeras diferenças (inclusive de contexto), em um mesmo trabalho quando transcrito por diferentes profissionais.

Ainda, neste sentido, a tarefa em transcrever para o meio ortográfico perpassa por elementos diversos, tais como fenômenos linguísticos, segmentações e suas fronteiras, pistas entonacionais, lexicalizações e gramaticalizações.

Degravação / Transcrição Fonográfica

Ferramentas como o Google Translator, ou softwares como o Transcribe, oTranscribe, Dragon, entre outros, facilitam esta atividade, e podem auxiliar neste processo, porém não devem ser adotadas como solução final de um serviço de transcrição.

Sim, estas ferramentas digitais possuem esta facilidade, porém uma correta Transcrição Fonográfica não se restringe apenas a simples “tradução” do diálogo de sua forma oral para a forma escrita, como descrito anteriormente.

Via de regra, as ferramentas atualmente existentes para de transcrever áudios e/ou vídeos, utilizam motores de reconhecimento de voz, por onde são capazes de reconhecer palavras e as reproduzir de maneira ortográfica, além disso, muitos destes serviços estão disponíveis em apenas um idioma, o que remete a pensar que um mesmo idioma possa ter uma variedade de sotaques o que por si só, já dificultaria o grau de assertividade nas transcrições.

Quando realizadas as transcrições de maneira automática por meio de software, não há a viabilidade na interpretação e identificação de falante, onde, em um simples arquivo de áudio contendo o diálogo entre dois falantes, o software “traduz” o diálogo continuamente, não realizando corretamente a distinção entre os falantes, entre outros aspectos apontados no decorrer deste artigo.

Ainda, conforme trecho extraído no próprio site de suporte do Google, abaixo está reproduzido um alerta quanto as limitações deste recurso via Youtube.

“O YouTube aprimora a tecnologia de reconhecimento de fala constantemente. No entanto, as transcrições automáticas podem diferir do conteúdo falado devido a erros de pronúncia, sotaques, dialetos ou ruído de fundo. Sempre revise as transcrições automáticas e edite as partes que estiverem incorretas”.

Fonte: https://support.google.com/youtube/answer/6373554?hl=pt-BR

Transcrição Manual

Conforme mencionado anteriormente, o processo de transcrição manual para arquivos de áudio e/ou vídeo para o meio ortográfico perpassa por elementos diversos, tais como fenômenos linguísticos, segmentações e suas fronteiras, pistas entonacionais, lexicalizações e gramaticalizações, bem como em uma correta metodologia na apresentação do resultado final, conhecidos como “Elementos de Transcrição”.

Estão elencados com uma maior riqueza de detalhes estes aspectos através do artigo Transcrição Fonográfica sob a Condução Forense, também sob minha autoria.

Ainda visando dar legitimidade a análise pericial, acompanha ao processo de transcrição no material questionado, a análise de integridade no arquivo digital, por onde serão analisados os metadados do arquivo objetivando verificar em sua integridade quanto a possíveis manipulações fraudulentas, bem como na extração dos algoritmos de hash.

O algoritmo de Hash, é considerado uma impressão digital eletrônica do arquivo, usadas na computação forense para comprovar se determinada cópia de um arquivo ou se determinada versão de um arquivo confere com a versão original. Serve para averiguar a integridade de uma evidência digital.

Referências

OliveiraPerito. Transcrição Fonográfica. Disponível em <https://oliveiraperito.com.br/transcricao-fonografica-2> Acesso em 09 Dez 2020

SANCHES, Ana. Fenômenos Linguísticos: Curso Fonética e Fonologia para a Prática da Transcrição, out/2019.

SANCHES, Ana. Transcrição, Degravação, Textualização: Curso Metodologia para Transcrição, out/2019.

BARBOSA et al., Análise Fonético-Forense em tarefa de Comparação de locutor – 1 ed. Campinas: Editora Millennium, 2020.


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