Em continuidade a série de artigos proposta no combate às fake news e disseminação de desinformação no contexto eleitoral, neste capítulo será destinado a demonstrar como o fact-checking e as agências de fact-checking apresentam-se com o propósito de ajudar o público a ter mais segurança na leitura de notícias e dos demais conteúdos de internet, diminuindo a propagação de notícias falsas, sobretudo nas redes sociais.
Com a popularização de notícias falsas na internet, o hábito de verificar as notícias passou a ser hábito também para os leitores. Pesquisa realizada em 2017 mostrou que 76% das pessoas em países como Brasil, França, EUA e Reino Unido checavam a veracidade da notícia que haviam lido ao conferir outras fontes. A confiança nas notícias é, em geral, maior para meios de comunicação mais tradicionais, como revistas impressas, canais de notícia 24h e radiojornalismo.
Fact-Checking
O fact-checking é uma checagem de fatos, isto é, o ato em confrontar histórias com dados, pesquisas e registros. Em jornalismo investigativo, refere-se ao trabalho de investigar a veracidade sobre fatos e dados usados em discursos (sobretudo políticos) nos meios de comunicação e em especial na internet e Redes Sociais. Seu propósito é detectar erros, imprecisões e mentiras.
A checagem de fatos é um método jornalístico por meio do qual é possível certificar se a informação apurada foi obtida por fontes confiáveis e, então por meio de etiquetas, avaliar se é verdadeira ou falsa, se é sustentável ou não.
A maneira mais efetiva de diminuir os impactos das fake news é cada cidadão fazer sua parte, compartilhando apenas aquilo que tem certeza de que é verdade, e se não tiver tanta certeza, sempre verificar a veracidade. O ideal é duvidar sempre e procurar informações em outros veículos, especialmente nos conhecidos como grande mídia, ou agencias de fact-checking.
Fact-checking em meio ao cenário eleitoral
A partir do processo eleitoral de 2020 o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) oficializou parceria com nove agências de checagem para criação da “Coalizão para Checagem – Eleições 2020”. Participam do projeto as agências :AFP, Agência Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Estadão Verifica, Fato ou Fake e UOL Confere.
A rede de checagem de fatos e de fornecimento de informações sobre o processo eleitoral integrou o Programa de Enfrentamento à Desinformação com Foco nas Eleições 2020.
Por meio desta parceria, as agências, o TSE e integrantes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) estiveram em contato permanente para identificar notícias falsas sobre as eleições e encontrar, da forma mais ágil possível, respostas verdadeiras e precisas.
As notícias checadas a partir desse grupo permanecem publicadas na página “Fato ou Boato” https://www.justicaeleitoral.jus.br/fato-ou-boato/, disponível no Portal da Justiça Eleitoral. A página também traz informações sobre o funcionamento da urna eletrônica e o processo eletrônico de votação e mais dados sobre checagem.
Do Fact-checking à Investigação
Dentre os recursos empregados pelas agências de Fact-checking na identificação de Fake News, podemos citar as metodologias costumeiramente utilizadas na Investigação Tecnológica por meio da Forense Digital, também conhecida como OSINT (sigla para Open Source Intelligence ou Inteligência de Fontes Abertas), é o termo usado, para descrever a inteligência, no sentido de informações, como em serviço de inteligência obtida através dados disponíveis para o público em geral, como jornais, revistas científicas e emissões de TV, conforme melhor detalhado no capítulo anterior “Atuação da Perícia Forense Digital”
Complementarmente, pode ser necessária a busca de mais evidências que permitam afirmar que determinada imagem ou vídeo foram manipulados, ou até mesmo na identificação do responsável por determinado conteúdo, neste caso, através de técnicas e melhores práticas utilizadas na Análise Forense Digital – Consiste basicamente no uso de métodos científicos para preservação, coleta, validação, identificação, análise, interpretação, documentação e apresentação de evidência digital com validade probatória em juízo.
Não se resumindo somente a estas análises aqui apresentadas, podemos exemplificar dois dos inúmeros recursos utilizados em Investigação Digital que visam contribuir com a checagem de material em ambiente virtuais: Busca Reversa e Exame dos Metadados
Busca reversa
A busca reversa é um meio de pesquisar na internet se uma determinada imagem já foi usada anteriormente em outro contexto ou se possui publicadas imagens semelhantes que possam colocar em dúvida ou confirmar a sua autenticidade. Há várias ferramentas que fazem esse tipo de busca, mas, como elas funcionam com algumas diferenças, a recomendação é usar mais de uma, se possível todas elas;
- https://www.google.com.br/imghp
- https://tineye.com/
- https://www.bing.com/?scope=images&nr=1&FORM=NOFORM
Metadados
Dispositivos como câmeras digitais e smartphones gravam informações sobre as condições em que uma imagem digital foi captada. Muitas vezes esses dados acompanham os arquivos das imagens digitais e nos permitem acessar informações sobre o dispositivo e também a data e o local em que a imagem foi captada. Tais informações são conhecidas como metadados. E o padrão utilizado é chamado de EXIF (Exchangeable image file format).
EXIF é a abreviação de Exchangeable Image File, um formato que é um padrão para armazenar informações de intercâmbio em arquivos de imagem de fotografia digital usando compactação JPEG. Quase todas as novas câmeras digitais usam a anotação EXIF, armazenando informações sobre a imagem, como velocidade do obturador, compensação de exposição, número F, qual sistema de medição foi usado, se um flash foi usado, número ISO, data e hora em que a imagem foi tirada, balanço de branco, lentes auxiliares que foram utilizadas e resolução. Algumas imagens podem até armazenar informações de GPS.
Disponível na internet, existem algumas excelentes ferramentas que podem auxiliar em uma investigação preliminar sobre os metadados em arquivos de imagem:
- https://exifdata.com/
- http://metapicz.com/#landing
- http://exif.regex.info/exif.cgi
- https://www.verexif.com/
Agências de Fact-checking
Embora esse trabalho exista desde o início do jornalismo, a partir da primeira década do século XXI emergiram meios que se dedicam exclusivamente à verificação de fatos, sobretudo na Internet.
Entre as principais agências de Fact-checking nacionais, destacam-se:
AFP – https://page.afp.com/Factchecking-PT.html
A AFP é uma agência de notícias global que fornece cobertura rápida, completa e confiável dos eventos que influenciam diretamente o planeta e nossas vidas. Com sua incomparável rede de produção de notícias, estendida sobre 151 países, a AFP também ocupa a liderança mundial em verificação digital, produzindo conteúdo multimídia de qualidade narrativa singular em vídeo, texto, fotos e gráficos.
Agência Lupa – https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/
Fundada em 2015, a Agência Lupa é considerada a agência referência em fact-checking no Brasil. E apesar de ser incubada no site da Folha e do UOL, a Lupa afirma que não tem vínculo editorial com essas empresas. A agência é membro do International Fact-Checking (IFCN), fundado pelo Poynter Institute, uma organização de jornalismo sem fins-lucrativos dos EUA. Por isso, sua metodologia e código de princípios são compartilhados com a IFCN e outras agências de checagem ao redor do mundo.
Aos Fatos – https://www.aosfatos.org/
Aos Fatos é um site jornalístico independente de verificação de fatos. Foi criado em julho de 2015 com o foco de verificar o que é falso e o que é real em discursos políticos. É inspirado no argentino Chequeado e no PolitiFact, um site americano ganhador do Pulitzer em 2008.
Com destaque ao bot “Fátima” — que vem de “FactMa”, uma abreviação de “FactMachine” — a agência Aos Fatos disponibiliza um importante recurso no combate as Fake News, é um bot que atua no WhatsApp, no Messenger e no Twitter. Ela é a voz dos projetos de inteligência artificial e automatização de checagem do Aos Fatos. O seu objetivo é enviar checagens e dar dicas para que consumidores de notícias na internet possam checar informações de maneira autônoma e se sintam seguros para trafegar na rede de modo confiável e sem intermediários. Para acessar, basta clicar AQUI https://api.whatsapp.com/send?phone=5521997472441&text=Oi,%20F%C3%A1tima
Fato ou Fake –https://g1.globo.com/fato-ou-fake/
O serviço de checagem oferecido pelo grupo Globo, apura notícias que estão sendo muito compartilhadas nas redes sociais. A partir daí, os jornalistas investigam a origem da notícia e se as imagens se referem ao noticiado. A checagem é feita por meio de apuração criteriosa. São utilizados três selos após a apuração: “fato” (conteúdo totalmente verídico), “não é bem assim” (quando o conteúdo não se baseia em fatos comprovados).
Campanha TSE – “Minuto da Checagem”
O programa é mais uma ação do TSE para combater a desinformação no âmbito do processo eleitoral brasileiro, que foi um dos grandes problemas enfrentados pelo Tribunal desde as Eleições Gerais de 2018, na medida em que levantou suspeições em relação à segurança do processo eleitoral e da urna eletrônica.
O Minuto da Checagem tem duração de aproximadamente um minuto e é veiculado uma vez por mês no canal da Justiça Eleitoral no YouTube. Também estão sendo produzidos spots de rádio em duas versões: de 15 e 30 segundos.
https://www.youtube.com/user/justicaeleitoral
Conclusão
Visto neste capítulo, um importante instrumento no combate às fake news, o fact-checking, e como as agências de checagem de fatos, são de extrema importância pois, buscam checar a fonte oficial sobre determinada notícia ou postagem vinculada no ambiente virtual. Adicionalmente, foram exemplificados dois dos inúmeros recursos utilizados em Investigação Digital que visam contribuir com a checagem de material em ambientes virtuais.
Já apresentando uma breve introdução sobre o assunto do próximo capítulo, quando serão abordados como os “Bot e Algoritmos” podem ser uma ameaça à democracia, na medida que tentam influenciar e poluir o debate público, e como as redes sociais (serviços orientados por algoritmos), escolhem qual conteúdo apresentar, baseado nos interesses demonstrados pelo usuário.
Referências
Planalto.gov.br. Lei Nº 12.965, de 23 de Abril de 2014. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. Acesso em 10 Ago 2021.
Factchecking AFP. Artigos multimídia de verificação de notícias. Disponível em <https://page.afp.com/Factchecking-PT.html>. Acesso em 23 Set 2021.
Agência LUPA. A primeira agência e Fact-Checking do Brasil. Disponível em <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/>. Acesso em 23 Set 2021.
Aos Fatos. A agência e Fact-Checking do Brasil. Disponível em <https://www.aosfatos.org>. Acesso em 23 Set 2021.
Fato ou Fake. Serviço de Checagem. Disponível em <https://g1.globo.com/fato-ou-fake>. Acesso em 23 Set 2021.
Tribunal de Justiça Eleitoral. Minuto da Checagem. Disponível em <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2020/Fevereiro/programa-minuto-da-checagem-explica-o-que-e-201cdeepfake201d>. Acesso em 23 Set 2021.
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